A caminho do vale…

Fotografia por Seyi Ariyo

Em pleno século XXI a sigla LGBTQIA+ continua a causar desconforto, fobia e pânico, camuflados por um cínico civismo. A identidade de género e a orientação sexual são dois assuntos indiscutíveis e/ou que sequer deveriam ser mencionados. Claramente está em risco a liberdade, a expressão individual e o respeito, que são igualmente uma premissa social e coletiva. 

De acordo com o Artigo 13º da Constituição da República Portuguesa:

  1. Todos os cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais perante a lei.
  2. Ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever em razão de ascendência, sexo, raça, língua, território de origem, religião, convicções políticas ou ideológicas, instrução, situação económica, condição social ou orientação sexual.

A Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia lembra-nos que:

  • “Toda a pessoa tem direito à liberdade e segurança.” – Título II, Artigo 6º.

A fantasia das “casas de banho mistas” e do “ensino LGBTQIA+” são dois equívocos, mas que apavoram e têm despertado particular apreensão em todo o território nacional. Dentro das nossas casas não identificamos ou sinalizamos o género para o WC… apenas seguimos a norma arcaica e que marginaliza a individualidade humana. O que deveríamos efetivamente fazer no WC? Qual seria o motivo para tanta inquietação?

Jamais poderíamos ensinar uma criança a ser homossexual, pansexual, transgénero, assexual, ou qualquer outra identidade de género e/ou orientação sexual. Sim, é uma orientação sexual, um traço e característica natural do ser humano… e não, não é uma opção! Como poderíamos nós formar/ensinar qualquer jovem ou adulto para que deixasse de ser cisgénero e/ou heterossexual?

Ao entrar num WC iria vasculhar e observar cada pessoa que lá estaria… ou iria simplesmente efetivar as minhas necessidades fisiológicas?

Ressalto que, a identidade de género é um direito humano e não cabe a mim e a nenhum de nós ditar o que cada um é ou deveria ser. Que direito tenho eu perante o corpo ou a identidade humana? 

E sim, a identidade de género é… exatamente como eu me sinto e identifico… seja cisgénero, transgénero, não-binário, fluido, entre outras identidades. O corpo é apenas um veículo da expressão individual e, independentemente da aparência ou traços visíveis ninguém tem o direito de interferir ou questionar sobre o mesmo. 

Seria muito mais interessante sermos o que somos, pois cada qual tem o seu recado, o brilho, a beleza e o encanto que lhe é próprio e único de cada um. Porque estaríamos nós tão preocupados em saber o que o outro é? Estaríamos nós assim tão inseguros? 

Sublinho que a linguagem inclusiva não irá jamais deturpar a língua portuguesa, apenas é uma expansão para que todes sintam-se acolhides e respeitades. É tão difícil e custa-nos assim tanto? 

Estamos muito aquém dos direitos respeitados e praticados socialmente, pois pouco ou nada serve uma lei que não é devidamente interiorizada e cumprida coletivamente. Todes nós que estamos fora do padrão hétero-cis-normativo deparamo-nos com as dificuldades diárias. Quer seja na escola, na universidade, no trabalho, no hospital ou em qualquer outro espaço. 

A fobia impera e o medo que é transmitido entre gerações persiste. Porquê o Madeira Pride é, provavelmente, o evento do ano com mais comentários carregados de ódio e preconceito? 

Sejamos livres, pois não é preciso gostar ou entender, mas é nosso dever respeitar!

Não há orgulho para alguns de nós, sem a liberdade de todes.” – Marsha P. Johnson.

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