Marcha do Orgulho LGBTI+ do Porto acusa Câmara de querer empurrá-la para a “invisibilidade”

Este ano a Marcha do Orgulho LGBTI+ do Porto (MOP) celebra 18 anos e acusa a Câmara Municipal do Porto (CMP) de querer empurrá-la para a “invisibilidade“.

A MOP é composta por vinte e um coletivos e associações da cidade que trabalham voluntariamente na luta contra a discriminação da comunidade LGBTQIA+ em Portugal.

A MOP informou que este ano dirigiu à Câmara dois pedidos de apoio para concretizar um arraial popular e associativo no final da 18ª Marcha do Orgulho LGBTI+ do Porto. Os pedidos consistiram no pedido de estruturas, licenças e requisição do espaço Largo Amor de Perdição e de 10.000 euros para gastos de produção, artistas, wc’s públicos, etc. 

Segundo a organização, o pedido financeiro foi negado após quase 3 meses de silêncio por parte do gabinete da presidência, alegando que o único apoio que dariam já estava a ser negociado com a Ágora – Cultura e Desporto do Porto. Após reunião com responsáveis da Ágora, a comissão organizadora da MOP viu negados o acesso ao Largo Amor de Perdição para a realização da festa. Foi então renegociado um novo espaço: a Alameda das Fontainhas.

Uma vez assegurado o apoio estrutural de palco, tendas, camarim e possibilidade de alguns wc’s, a MOP reajustou o pedido de financiamento para 8.900 euros que, mais uma vez, foi negado. Foram alegadas questões de equidade para a não atribuição desta comparticipação financeira.

A MOP questiona essa alegada equidade, alegando que, no mesmo dia em que a Câmara Municipal do Porto negou este apoio financeiro à MOP, foi aprovado em reunião de executivo um apoio financeiro no valor de 300 mil euros para a Comic Con Portugal. Também neste mesmo mandato o executivo aprovou um apoio financeiro de 600 mil euros ao festival Primavera Sound. “Somos assim tão insignificantes?“, pergunta a MOP.

Reviravolta nas condições combinadas com a Marcha do Orgulho LGBTI+ do Porto

Após os longos meses de ausência de resposta e a recusa ao apoio financeiro, ativistas organizaram-se em iniciativas de promoção da marcha e de angariação de fundos para o arraial. Com os fundos arrecadados e o apoio estrutural cedido pela Ágora – Cultura e Desporto do Porto era já possível organizar o arraial na Alameda das Fontaínhas.

No entanto, para surpresa da MOP, a 19 de junho recebeu uma nova comunicação da Ágora: “Após análise interna, e apesar de sua proposta, informamos que, devido à quantidade de iniciativas que ocorrerão na cidade no mesmo fim-de-semana, não será possível realizar o arraial na Alameda das Fontaínhas. No entanto, considerando as reuniões realizadas, ainda estamos disponíveis para analisar a realização da iniciativa no Parque Municipal do Covelo”

Foi com “muito espanto e tristeza” que a organização da Marcha do Orgulho LGBTI+ do Porto recebeu esta notícia, uma vez que toda a negociação para a concretização deste arraial associativo estava completamente alinhada em todos os nossos contactos e reuniões. Conforme já tinha sido negociado, a Quinta do Covelo não reúne as condições para albergar um evento desta magnitude, além de apresentar várias limitações ao acesso e para pessoas com mobilidade reduzida. Além disso, a manifestação, que acontece no centro da cidade, terminará neste arraial com a leitura de manifestos e de outras intervenções associativas. Esta é uma proposta que, segundo a MOP, reforça a inviabilidade do evento.. 

A organização relembra que a data escolhida para a MOP foi negociada em reunião com a Ágora no dia 10 de fevereiro de 2023 após ter sido dada a informação de que no dia 1 de julho iriam ser realizadas as tradicionais rusgas de São João. A MOP respeitou esse dado e ficou decidido a data ficar marcada para dia 8 de julho.

A comissão organizadora relembra que tem um programa agendado com artistas da comunidade LGBTQIA+, compromissos com fornecedores de som, luz, bebidas, materiais de produção e logística e que está a meras duas semanas da manifestação. Esta decisão põe em risco não só a realização do evento, mas também os compromissos com fornecedores, artistas, públicos, bem como a gestão financeira totalmente comparticipada pela comunidade da cidade do Porto. Além disso, o valor arrecadado com as vendas do Arraial contribui para dar resposta às dezenas de pedidos de apoio social que anualmente chegam aos coletivos e associações que integram a comissão..

Petição pela visibilidade da Marcha e Arraial do Porto

A MOP convida assim a população a juntar-se a esta luta:

Não podemos ficar calades diante da opressão e da marginalização. Vamos erguer nossas vozes, marchar e celebrar com orgulho, demonstrando que o amor e a diversidade são forças revolucionárias. O Porto é uma cidade diversa e inclusiva, e exigimos que as nossas autoridades ajam de acordo com esses princípios. Juntes, podemos criar uma sociedade mais justa, igualitária e acolhedora para todes. A nossa luta é pela libertação, pela visibilidade e pela verdadeira igualdade. O Orgulho é a nossa revolução! 

Assina a petição para exigir ao município a realização do Arraial + Orgulhoso do Porto no centro da cidade, longe da invisibilidade!

Não há cura para a nossa existência, só orgulho e resistência.

A Marcha do Orgulho LGBTI+ do Porto e o Arraial+ Orgulhoso estão previstos para dia 8 de julho de 2023.

Atualização de 3 de julho

A Câmara do Porto permanece irredutível e confirma que o Arraial+ Orgulhoso será no Covelo ou não terá o seu apoio. Vereadoras do Bloco de Esquerda, PS e CDU apelaram à negociação entre a autarquia e a comissão organizadora, até por uma questão de segurança. Vereador do PSD considerou, no entanto, esses argumentos irrelevantes, uma vez que “extremistas de direita ou de esquerda há em todo o lado. Mas as pessoas podem andar livremente.”

A organização da Marcha do Porto convoca assim todas as pessoas que não se identificam com vivencias de gênero normativas para assumir a frente da manifestação no próximo sábado. Convoca também todas as pessoas aliadas e comprometidas com a luta histórica para mostrar ao mundo que a diversidade não pode ser escondida.

Comissão Organizadora da Marcha do Orgulho do Porto

Anémona
A Coletiva 
A comunidade para o Desenvolvimento Humano
Amplos – Associação de Mães e Pais pela Liberdade de Orientação Sexual e Identidade de Género
Associação de Estudantes da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto
Associação de Estudantes da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto
CaDiv – Caminhar na Diversidade 
Coletivo A Traça 
Douro Bats 
Habitação Hoje
Feminismos Sobre Rodas
Gentopia – Associação para a Diversidade e Igualdade de Género
Greve Climática
Kings of Kitéria
Núcelo Antifascista do Porto
PolyPortugal 
Porto Inclusive
rede ex aequo
Saber Compreender
SheDecides
SOS Racismo