Fazer Compreender Ao Papa Francisco O Respeito Da Lei E A Laicidade Do Estado

O Papa Francisco afirmou ontem, quando regressava a Roma da sua visita às Américas, que um funcionário público tem direito a recusar emitir licenças para ‘casamentos gay’, se isso violar a sua consciência – afirmando que “a objeção de consciência é um direito humano”.

A resposta foi dada quando perguntaram ao Sumo Pontífice se apoiava indivíduos que se recusam a acatar algumas leis, como a da emissão de licenças para casamentos entre pessoas do mesmo sexo, agora legais em todos os Estados Unidos, de onde regressava. Para Francisco o direito à recusa é uma questão de “direitos humanos”.

No início de setembro, a fé cristã foi apresentada por Kim Davis, chefe de secretaria do tribunal de Kentucky como justificação das suas constantes recusas para cumprir a lei. Mas o juiz americano David Bunning, que ordenou a sua prisão, recusou o argumento da arguida e determinou a sua detenção durante 5 dias.

O Papa, que outrora deu sinais de abertura em relação às pessoas LGBT, voltou a baralhar o tema e a defender as pessoas que diariamente ofendem e perseguem essa população. Porque não basta que pessoas, como a homofóbica Kim, virem chorar paras as televisões e afirmar, calculem!, que “até têm amigos gays!” Um deles, o único dessa senhora, já veio mostrar, e bem, a vergonha que sente pela amiga.

O tema do casamento entre pessoas do mesmo sexo não tem qualquer relação com a Igreja Católica ou outra, as leis pertencem aos diversos Estados e devem ser respeitadas por todos os cidadãos. Os Estados, apesar de todas as influências nos bastidores que possam haver, devem declarar-se laicos. As tradições religiosas serão igualmente respeitadas por nós se estas não colocarem em causa os direitos de toda a população. A Kim Davis poderá alegar objeção de consciência (que o Juiz recusou), mas se desejar honrá-la terá que mudar de profissão, porque não poderá então cumprir a sua tarefa que é a de aprovar casamentos (obviamente) civis. E todos os que cumprirem as regras ditadas na lei, incluindo pessoas do mesmo sexo, terão o direito em casar-se. A religião de Kim não está acima da lei.

Ora aqui está o problema do Papa Francisco e das suas declarações: pretende impôr o seu ideal religioso a toda a gente, esquecendo-se que, acima das crenças religiosas de cada um, estão os direitos das pessoas e a Lei do País que as defende e essa separação entre Igreja e Estado, por muito que lhe custe compreender, é algo que defenderemos sempre.

Nota: Obrigado ao David pela ‘inspiração’do título e ao Luciano pela partilha da notícia 🙂

Fonte: Observador.