Esta semana ficará marcada por mais um episódio de pressão social direcionada a mulheres. O tema não é propriamente novo, mas sempre que alguma mulher aparece em público e mostra o seu corpo e respetivos pelos é vista como uma rebelde, uma ameaça até. Foi o que aconteceu com Lourdes Maria, filha de Madonna e Carlos Leon. Numa praia com amigos e amigas teve o desplante (!) de mostrar orgulhosamente os pelos das axilas.
Sim, isto foi notícia um pouco por todo o mundo. E se é verdade que surgiram comentários em defesa de Lourdes – e de todas as mulheres – também houve aqueles que fizeram questão de as chamar de porcas e feministas nojentas e que resolveriam o problema em menos de 5 minutos.
Este acaba por ser um discurso que entra num ciclo vicioso em que existe uma clara partilha destas ideias pela jornalista quando esta escreve que “não foi a forma física nem o biquíni que chamaram a atenção”, mas sim “a depilação que deixou por fazer e a exibição dos pelos sem qualquer pudor que falaram mais alto.” Faz questão ainda de realçar que “esta não é [a primeira vez que] a Lourdes Maria opta por mostrar que faz o que quer, independentemente das regras sociais.” Ora, para além de perder algumas palavras pelo caminho e ao fim de um dia ainda não ter editado o seu trabalho, a jornalista faz um claro juízo de valor sobre uma rapariga que simplesmente foi à praia. A ideia da obrigatoriedade da depilação – quase total – feminina trata-se de uma imposição sobre o corpo das mulheres. Nem a Lourdes, nem outra qualquer mulher têm a obrigação de depilar o seu próprio corpo.
Acontece que este é ainda hoje o resultado de décadas de idealizações, misóginas, entenda-se, sobre o que é ser feminino. Todos os dias surgem-nos imagens de mulheres perfeitas, depiladas, aliens. E tudo o que se desvie desse ideal é questionado, é apontado, é confrontado. Uma forma de dizer a todas as mulheres que se depilem daquilo que não se encaixa no imaginário masculino, daquilo que pode ser andrógino, daquilo que pode confundir certos homens na sua imposição machista. Uma mulher depilada tem igualmente conotações visuais com a juventude. Esta não é mais que uma meninice fantasiosa que pretende anular a ideia de poder na mulher adulta, anulando assim também qualquer ameaça ao homem.
Esta é uma ideia de escolha livre com contornos ténues, é certo, e que passa igualmente – e cada vez mais – pelo corpo masculino, mas este trata-se de uma das últimas imposições sociais ainda largamente aceites, tal como as mamas – de mulheres, pois claro – e por arrasto desta última a amamentação em público.
A decisão de uma pessoa se depilar deverá ser livre, sem que o contrário lhe traga qualquer tipo de julgamento público sobre o seu corpo. Já chega de olharmos para o corpo de outrem como uma propriedade nossa, espelhando neles as nossas inseguranças, os nossos receios, aquilo que nos atormenta, criticando e insultando aquelas e aqueles que têm a coragem de o fazer. Porque basta ver a quantidade e o nível dos artigos e comentários publicados nos últimos dias para percebermos que é também uma questão de coragem. Apareçam pois as mulheres, com ou sem pelos, são corajosas e orgulhosas por pleno direito:
[clicar nas imagens para as ver no tamanho original]
Fonte: Imagens.

Ep.185 – Podcast – Religião e LGBTIfobia? – Dar Voz a esQrever: Notícias, Cultura e Opinião LGBTI 🎙🏳️🌈
O Podcast Dar Voz A esQrever 🎙🏳️🌈 está disponível nas seguintes plataformas:
👉 Spotify 👉 Apple Podcasts 👉 Google Podcasts 👉 Pocket Casts 👉 Anchor 👉 RadioPublic 👉 Overcast 👉 Breaker 👉 Podcast Addict 👉 PodBean 👉 Castbox 👉 Deezer
Lindo, lindo! <3 Fizeste-me lembrar a frase da Barbara Kruger, "My body is a battlefield". 🙂
😀