Wajahat Abbas Kazmi: “No Corão nada está escrito contra a homossexualidade, nem sequer uma palavra”

Wajahat Abbas Kazmi foi uma das personalidades que constituiu o painel da Conferência Internacional “Fé na Igualdade” promovida pela ILGA Portugal. Wajahat é um cineasta e ativista homossexual muçulmano que trabalha presentemente na Amnistia Internacional em Itália e que enriqueceu a discussão no passado dia 17 no Museu da Farmácia.

Wajahat lançou a campanha #AllahLovesEquality (Allah ama a igualdade), dirigida a pessoas LGBTI muçulmanas e convidando-as a assumirem-se, porque ser LGBTI “não é um crime, nem sequer uma escolha”.

Durante a conferência, o ativista contou que nasceu no Paquistão e mudou-se com a família para Itália quando tinha 14 anos e os pais eventualmente arranjaram-lhe noivado com uma prima afastada. Wajahat explicou que já naquela idade estava certo da sua orientação sexual, mas na altura não estava suficientemente confiante para falar com os pais sobre a sua homossexualidade. Dado que o noivo e a noiva não podem ter qualquer contacto sexual antes do casamento, Wajahat decidiu “jogar aquele jogo e evitar o confronto com a família”.

O noivado durou 8 anos, repletos de desculpas para manter a fachada e no mês em que ficou decidido a data do casamento Wajahat fez o seu coming out à família. Fê-lo pelo telefone porque na altura eles estavam de férias no Paquistão. Naquela chamada ficou acordado que falariam adequadamente em Itália. Quando por fim se reuniram o pai de Wajahat começou a chorar e disse-lhe “és o meu filho e quero o teu bem. Irei levar-te a um médico que te ajude a sair desse estado”.

Foi nessa altura que o ativista percebeu que o tópico da orientação sexual na sociedade muçulmana está longe da realidade, porque “as pessoas não entendem o que é ser-se gay”, para elas é uma questão médica ou confundem com uma pessoa ser transgénero. “Por isso, tanto o meu pai como a minha mãe perguntaram-me se eu era transgénero“. Wajahat viu-se obrigado a tomar medidas, nomeadamente falar de pessoas LGBTI muçulmanas com o início do seu ativismo.

Por outro lado, explicou que não fala com os seus pais desde há 4 anos. Um outro golpe familiar levou os seus irmãos de volta para o Paquistão, onde estão a viver nos últimos 6 anos, porque os seus pais não quiseram que eles se transformassem em pessoas como o irmão.

Foram estas as razões que levaram Wajahat a lançar a campanha que dá visibilidade a pessoas LGBTI muçulmanas, campanha essa que será igualmente transformada numa série de documentários que serão filmados no Paquistão, Marrocos e Tunísia, entre outros.

Wajahat pretende assim “discutir e abordar – tal como criar laços com líderes religiosos – sobre a temática LGBTI” e ser aceite na sociedade muçulmana. “No Corão nada está escrito contra a homossexualidade, nem sequer uma palavra”. E contra a invisibilidade e o silêncio destas pessoas, Wajahat lembrou que “na sociedade muçulmana, até há 3 anos, não se falava sobre este tópico”, mas a importância destas conferências e discussões é que “quando começamos a falar, começamos também a arranjar soluções e a encontrar resultados.” Um coming out de cada vez, se for necessário!

Fonte: Imagem.


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Respostas de 2 a “Wajahat Abbas Kazmi: “No Corão nada está escrito contra a homossexualidade, nem sequer uma palavra””

  1. […] presente na conferência a ler a Bíblia e – espalhando o que disse Wajahat Abbas Kazmi sobre o Corão minutos antes – “ver que na Bíblia não há nada que diga que outra pessoa tenha que ser […]

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  2. […] um risco constante. De origem paquistanesa e de uma cultura muçulmane ahmadi, Samra Habib viveu sob a ameaça de extremistas que viam a sua comunidade como uma afronta. A necessidade de se esconder e adaptar tornou-se uma parte essencial da sua […]

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