Os Dias Maus De Putin

O Presidente russo, Vladimir Putin, é o centro de um novo documentário esta semana apresentado de Oliver Stone. O realizador norte-americano acompanhou Putin que lhe disse que nunca tem dias de folga do seu cargo porque é homem: “Não sou uma mulher, por isso não tenho dias maus”. Mas descansem MerkelGrybauskaitė ou até Bachelet, porque, afinal, Putin não estava “a tentar insultar ninguém. É simplesmente a natureza das coisas. Há determinados ciclos naturais“.

Pois há, mas nas cabeças pequeninas nunca passam, por exemplo, pela andropausa, pois não? Porque aos olhos delas uma pessoa em plena menstruação (e, sim, sou capaz de escrever a palavra) é uma pessoa ferida, uma pessoa incapaz. Os ciclos naturais que lhes realmente importam são aqueles que, através da repetição descontextualizada e em modo ad æternum, minoram as mulheres. O machismo no seu esplendor.

Stone não perdeu a oportunidade em questionar o Presidente russo sobre o tema da homossexualidade, perguntando se a lei que proíbe “propaganda gay” a menores de idade, aprovada em 2013, significa que os homossexuais são alvo de discriminação. “Não há restrições” foi a resposta dada por Putin. Relembro que esta lei foi introduzida “com a finalidade de proteger as crianças de uma negação dos valores familiares tradicionais” e, como tal, os alegados “elementos de propaganda da homossexualidade e pedofilia” de anúncios de televisão e revistas não podiam ser emitidos na Rússia. A Calvin & Klein e a IKEA já tiverem problemas com as suas campanhas russas.

Em tom de provocação, o realizador questionou Vladimir Putin se tomaria banho juntamente com um homem homossexual num submarino. O chefe de Estado russo disse que preferia “não o fazer”. “Para quê provocá-lo? Tu sabes, sou um mestre do judo”, brincou. Porque não há homem – na realidade, homossexual ou não – que resista aos atributos de Putin, não é verdade? É este tipo de visão simplista sobre o que é a relação entre duas pessoas – sim, até no chuveiro de um submarino – que deixa adivinhar o continuado preconceito deste homem em relação a pessoas LGBTI.

Nada disto é surpresa, o facto de a Rússia ser um dos países mais homofóbicos do mundo e, inclusive, incentivar o machismo apenas é espelhado no próprio presidente. Ou será ao contrário? Seja qual for a perspectiva que se tenha, é inadmissível que um líder mundial permaneça a usar este tipo de linguagem e este tipo de políticas que apenas propagam o ódio e o preconceito. Porque, bem vistas as coisas, os dias maus de Putin são os nossos melhores dias. Venham eles!

Fonte: Público.

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