A Igreja Católica tem tido uns dias agitados no que toca à temática LGBTI. Se já tínhamos visto a verdadeira perseguição a futuros padres homossexuais, o Papa Francisco questionou igualmente a mudança de género, assunto que considera uma “manipulação biológica e psicológica da diferença sexual“. Mas o pontífice vais mais longe, dizendo que esta “utopia do neutro” coloca em perigo a criação de nova vida.
Argumentou, perante a Pontifícia Academia para a Vida, o conselho para a bioética do Vaticano, que o género divide-se entre homem e mulher para fins de reprodução. Alertou também contra a “manipulação” do género que poderá “desemparelhar” esse equilíbrio:
Mais do que contrastar interpretações negativas de diferenças sexuais eles querem acabar com essas diferenças, propondo técnicas e práticas que os torna irrelevantes para o desenvolvimento humano e para as relações. [Tais práticas] arriscam desmantelar a fonte de energia que alimenta a aliança entre homens e mulheres e os torna férteis.
A manipulação biológica e psicológica da diferença sexual, que a tecnologia biomédica permite ver como aberta a livre escolha – que não é – é, portanto, susceptível de desmantelar a fonte de energia que alimenta a aliança do homem e da mulher e torna-a criativa e frutífera.
Estas afirmações mostram uma enorme ignorância no que toca à identidade das pessoas, sejam elas Cis ou Trans. Quantas vezes as diferenças entre géneros não passam de construções sociais, longe de arbitrárias, mas assentes num modelo de sociedade patriarcal e misógino. Quantas das pessoas que não se identificam com o sexo atribuído à nascença não vêem a questão como uma escolha consciente, mas antes com a própria identidade do seu ser?
A fertilidade, que não tem que necessariamente estar relacionada com a mudança de género, está longe de ser um problema, dado que a reprodução, mesmo com a existência de pessoas Trans – e gays e lésbicas, já agora – ao longo da história da humanidade, não teve qualquer tipo de influência na reprodução das pessoas. Bastará entender o seguinte gráfico que é dado no ensino secundário.

Esta é uma simples desmontagem de uma não-questão. Precisamos, portanto, de uma Igreja mais séria e responsável.
Fontes: DN, Our World In Data e The Huffington Post.
One comment