
Sexta-feira, dia 7, o Festival Periferias* apresenta uma sessão de curtas independentes da China sobre questões de género e sexualidade.
A sessão, que terá lugar na Quinta de Olhos D’Água, no Marvão, mas que também estará disponível na Filmin Portugal, é organizada em parceria com os Festivais Critica** e ShanghaiPRIDE***.
Enquanto co-criadora do Festival Critica e voluntária na organização do ShanghaiPRIDE, foi com uma grande satisfação que vi esta parceria estabelecida.
Quando comecei a trabalhar na China junto da comunidade LGBTI+, em 2015, deparei-me com algumas diferenças – entre outras, a expressão da homofobia. Tendo crescido numa cultura inseparável de uma herança religiosa, inicialmente senti uma grande emancipação numa sociedade livre do conceito de “pecado”. No entanto, a ausência do “pecado” na cultura maioritária Chinesa não se traduz necessariamente numa sociedade menos homofóbica, mas numa sociedade em que a homofobia se manifesta de outras formas – por exemplo, através da enorme pressão familiar para garantir a continuação da família tradicional, redobrada num país de filh@s únic@s, ou através das projeções de uma tradição fortemente patriarcal.
Apesar disso, existem sempre vivências partilhadas na comunidade; a homofobia, a bifobia, a transfobia mantêm-se presentes nas suas múltiplas formas de expressão, e penso que é importante aprender mais sobre tanto as diferenças como as semelhanças dentro da nossa comunidade mais alargada, assim como sobre as diferentes formas de ativismo, para uma luta global pelos direitos LGBTI+ verdadeiramente inclusiva.
Por isso, propus esta parceria ao Festival Periferias; não só para alimentar caminhos entre diferentes culturas na comunidade LGBTI+, como também para realçar a diversidade da experiência LGBTI+ no mundo. Além do mais, há uma grande satisfação em dar visibilidade ao trabalho impressionante dos filmes selecionados.
A sessão vai começar com um documentário que acompanha o dia-a-dia de um casal do mesmo sexo, nos subúrbios de Xangai, procurando entender o seu passado e o presente (Tang Long, de Jingtian Zong); a segunda curta é sobre uma adolescente a lidar com o processo de aceitação da sua sexualidade, assim como a partilha dessa aceitação com a sua mãe (Wo Ai Ni Mama, de Maya Peters); a terceira curta é sobre os desafios sociais e psicológicos de uma sobrevivente de violação sexual numa zona rural (Ruins, de He Yi); a curta seguinte é sobre uma pessoa Trans, a trabalhar numa fábrica de uma cidade pequena Chinesa, nos anos ’90 (We Outlaws, de Kaixuan Wang); e o último filme é uma curta que entrevista várias pessoas da comunidade LGBT+ Chinesa sobre as suas experiências a nível amoroso, sexual, social, e familiar (Eyes, de Naixin Xu).
As três primeiras curtas participaram na competição de curtas do Festival Critica em 2018, 2019, e 2020, enquanto as duas últimas curtas foram exibidas no ShanghaiPRIDE, e selecionadas em conjunto com o ShanghaiPRIDE para esta mostra.
Maria Ab
* O festival Periferias teve a sua primeira edição em 2013 e é organizado anualmente, desde então, pela Associação Cultural Periferias em Portugal e Gato Pardo em Espanha. É intenção dos organizadores contribuir para uma efectiva descentralização cultural que, a médio prazo, permita a criação de um público mais consciente e dotado de um pensamento plural que reflita e interaja com o mundo atual.
** O Festival Critica, fundado em 2018 em Xangai, é um festival que considera a arte enquanto instrumento de mudança social; é um espaço de aprendizagem onde artistas, público e organizadores exploram identidades, questionam preconceitos, e constroem espaços inclusivos.
*** ShanghaiPRIDE, fundado em 2009, é um festival anual na China, completamente organizado por voluntári@s, que celebra a diversidade. O festival procura trazer visibilidade e promover a proteção da comunidade LGBTQ+, através do desporto, cultura, educação e entretenimento.

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