
A Netflix tem dado passos largos a nível de representação de pessoas LGBTI no pequeno ecrã. É o caso da carta branca dada a Ryan Murphy com Hollywood, Ratched, The Boys in the Band – e em breve Prom com Meryl Streep e Nicole Kidman – depois de colocar também Pose disponível na plataforma, tentando colmatar a falha da representação trans. A letra T continua a ser a mais menosprezada e não existia ainda em nenhum serviço de streaming um filme de coming of age de uma pessoa trans tal como existe com o popular Love, Simon.
Até agora, claro. A Netflix comprou os direitos para exibir Alice Júnior, um pequeno filme brasileiro realizado por Gil Baroni e com argumento de Luiz Bertazzo. Fez as rondas nos festivais de cinema o ano passado e agora está disponível para visualização para todas e todos verem. É um filme leve sobre as peripécias de Alice, uma adolescente trans que se vê obrigada a mudar-se para o interior enquanto o pai encontra uma nova oportunidade de trabalho. E, apesar dele a aceitar, o mesmo não é verdade das professoras e colegas da escola católica que Alice tem o azar de passar a frequentar, longe da aceitação da sua Recife natal.
Apesar de abordar temas complicados e abrangentes como a transfobia, Alice Júnior nunca abandona uma leveza de algodão-doce, muito graças ao carisma e doçura da sua protagonista, a relevação Anne Celestino. Ela é de facto a grande cartada do filme, simples mas eficaz ainda que potencialmente muito esquecível. Mas Celestino é tudo menos isso e certamente dará que falar no futuro. Por enquanto falemos dela em Alice Júnior e da forma celebratória como deixa a personagem viver a sua autenticidade para além do medo e da vergonha. Com uma luz interior e vontade de emancipação. Um exemplo para adolescentes e não só.
Podem ver Alice Júnior em streaming na Netflix Portugal.
2 comentários