
Entre isolamentos e confinamentos pandémicos deambulamos com mais frequência pela nossa (in)consciência, refletindo sobre o passado, sobre as memórias, quase que como uma tentativa de desvanecer ou desvincular desta nova realidade… Um estado dormente, mas produtivo (ou automático)!
Encontramo-nos a ressignificar relações interpessoais, afetos, carinhos, comunicação, amor, tempo, contato físico, entre outros! Confesso-te que toda esta vivência poderá ser bastante enriquecedora, uma vez que nos permite conhecer melhor a nós próprios, a desafiar os nossos receios, a reconhecer os nossos limites, estaríamos uma tarde inteira a discutir sobre o impacto deste vírus na nossa saúde mental, no nosso self, nas nossas emoções…
Contudo, escrevo-te para refletires comigo sobre os atuais modelos de relações íntimas, estes tempos têm sido horríveis para os solteiros, caramba agora parece ainda mais complicado conhecer novas pessoas! A verdade é que somos uns sortudos por estarmos a vivenciar este panorama de saúde pública na Era Digital, as tecnologias de informação e comunicação permitem-nos chegar a todos os cantos e recantos do mundo, a facilidade com que acedemos a informação é indescritível, salvaguardando sempre a necessidade de assegurar que provém de fontes fidedignas, mas também se tornou um desafio criar relações significativas…
No que respeita a conhecer novas pessoas tem sido uma aventura, a panóplia de aplicações de encontros que temos à nossa disposição é imensa (o que torna ainda mais assustador, porque repara no quão seletivo e superficial se tornou o processo de conhecer…), até nas redes sociais já é possível flertar com várias pessoas, mas, vá, há que manter o nosso lado sedutor ativo, quem não gosta de um bom flerte!?
Contudo, a mesma velocidade com que nos apegamos a um outro é cada vez mais igual à mesma velocidade com que desapegamos, repara que com estas tecnologias tudo ocorre a uma velocidade imensurável, não nos permite conhecer verdadeiramente o outro… Confesso-te, que sendo eu uma mulher old school, que ainda escreve cartas de amor à mão, que privilegia o contato físico, o toque, o olhar, o sorriso, toda esta nova modernização de conhecer e estar em contexto íntimo deixa-me extremamente triste, muitas vezes reticente sobre o outro por detrás da tela.
Pode acontecer chocar com alguém novo nestes últimos meses, vamos falando e criando ligação, vamos procurando conhecer (dentro do possível) o outro, sabemos que online só demostramos o lado que queremos, vamos também alimentando a fantasia, alimentando o ego e colmatando a nossa necessidade de nos sentirmos desejados. Contudo, cada vez mais sinto que temos de estar preparados para o desaparecimentos repentino do outro, que sem dar qualquer
justificação simplesmente desvanece… O quão superficial e rápido se tonaram as relações interpessoais é assustador!
Quero que saibas que em 7,8 biliões de pessoas neste mundo não existe ninguém igual a ti, nem a mim, somos todos únicos e especiais, não fossemos nós constituídos por uma percentagem de poeira interestelar! Portanto, neste processo de conhecer o outro, é um privilégio enorme dares-te a conhecer, tal como o é ao outro expor um pouco de si a ti, há que aproveitar cada instante, cada sorriso, cada partilha, acredita vais crescer imenso! Apenas retém esta questão, as ações do outro dizem muito mais sobre ele do que sobre ti, nunca duvides do quão especial és (isto vindo de um palmo e meio de gente que ainda apenas vivenciou 25 anos)!
Caramba, quando conhecemos alguém de certo modo estamos a entrar na história do outro, estamos a deixar a nossa marca, tal como o inverso também ocorre e em simultâneo, quase que como se de um filme se tratasse. Gosto de pensar que a minha história encontra-se entre o tipo de comédia e de ação, mas com muitas nuances de suspense, e a tua?
Esta nova realidade pode aumentar o tempo que passas sozinh@, mas a solidão só é negativa ou causadora de mal-estar interno, se tu não valorizares a tua companhia, permite-te a cultivar o teu amor próprio, permite-te a retirar prazer da tua própria companhia! Só assim conseguirás passar pelo processo de autoconhecimento e, posteriormente, de conhecimento do outro, de forma muito mais enriquecedora. Reflete sobre esta afirmação: “Eu não preciso de ti, mas quero-te ao meu lado”.
Quero desafiar-te a amar-te a ti própri@, com cada marca no teu corpo, com cada estria, com cada celulite, com cada “pneu”, com cada quilo a mais que a sociedade parametrizou, com cada pêlo (mencionei todas estas caraterísticas, uma vez que a sociedade continua a reiterar como pouco comum, confesso-te que para mim um corpo real é constituído por estas e muito mais, é um Universo sem fim e indescritível!). Ama-te com todas as qualidade e defeitos, sabias que uma forma de reconhecer um diamante verdadeiro é mediante a observação da existência de imperfeições no mesmo? Portanto, brilha muito e ama-te como mais ninguém o sabe fazer!
Há uns tempo li este excerto e fez imenso sentido entre os meus neurónios, aqui te deixo:
‘O amor quer a posse, mas não sabe o que é a posse. Se eu não sou meu, como serei teu, ou tu minha? Se não possuo o meu próprio ser, como possuirei um ser alheio? Se sou já diferente daquele de quem sou idêntico, como serei idêntico daquele de quem sou diferente?’ – Bernardo Soares, in ‘O Rio da Posse’

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