Vozes a crescer

A estreia, há uns dias na Netflix, do filme “Moxie” não podia ser mais oportuna. Um filme de adolescentes em que a luta, a revolta e os direitos das mulheres entram em primeiro plano é um acontecimento digno da semana do Dia Internacional das Mulheres, hoje celebrado.  

“Moxie”, de Amy Poehler, é um filme de adolescentes, típico no ambiente, no tom e na dinâmica, mas atípico na perspetiva em que se centra a ação. É a perspetiva das personagens femininas, é o seu olhar que vemos e é exatamente nessa condição que se centra o tema do filme. Vivian, a protagonista, é quem nos guia no processo de encontrar a sua voz, levando-nos por uma escola secundária cheia de preconceitos machistas, práticas misóginas e uma violência “consentida” pelo silêncio generalizado e a cumplicidade da Diretora. Vivian passa da “mais obediente”, da miúda introvertida, para a revolucionária feminista disposta a ir até ao fim. Encontra a sua voz, entre a inspiração do passado da mãe (a própria Amy Poehler) e a insubmissão de uma nova colega, e nós lá estamos a torcer por ela.

Amy Poehler não é propriamente novata nestas andanças. O seu filme anterior como realizadora, Wine Country (também na Netflix), já reunia um cast incrível de mulheres numa comédia que evidenciava uma vez mais o female gaze, afastando as personagens femininas do dominante universo/olhar masculino. Como artista, atriz, comediante e figura pública, Amy Poehler tem desenhado um percurso bem feminista, até em projetos menos mediáticos como o Amy Poehler’s Smart Girls. Neste projeto, focado num público jovem, celebra-se também a diversidade de cada pessoa e de cada rapariga. Podemos ler “We celebrate curiosity over gossip. We are a place where people can truly be their weird and wonderful selves. We are funny first, and informative second, hosting the party you want to attend.”

Este também podia ser o mote de Moxie. E mostrar de uma forma divertida (mas bastante genuína) como a realidade das mulheres está comprometida pela sociedade patriarcal e como a voz das mulheres é silenciada diariamente, como a sua ação é subjugada pelo status quo e por uma tabela de valores indiferente à sua vontade.

Uma das cenas mais marcantes do filme é quando Vivian diz, acerca do personagem masculino que simboliza esse poder, que ele é “irritante” e a nova amiga Lucy lhe responde que, em vez disso, ele é “perigoso”. É aqui que o olhar de Vivian começa a mudar, quando deixa de aceitar aquela realidade como normalidade “irritante” e começa a exigir a igualdade e a liberdade das mulheres como a normalidade necessária, que a liberta de um perigo bem real.

“Moxie” é um filme baseado num livro e isso por vezes nota-se, pois há muitos fios que vemos que dariam para uma meada maior. Não há tempo para tudo, mas há para o mais importante: dar às pessoas adolescentes um filme divertido que é reflexo dos tempos em que vivem e da luta que tantas e tantos de nós travamos. Tem ainda a beleza da diversidade, conseguindo retratar a interseccionalidade da luta feminista, com personagens e mulheres não-normativas, em raça, orientação sexual, identidade de género ou deficiência. É um hino à sororidade, à solidariedade e à empatia.

Pensando nas crias adolescentes que me rodeiam, que bom que é que possam ver que não temos, enquanto mulheres ou enquanto pessoas excluídas, de resignar-nos ao silêncio, à invisibilidade ou à violência. As raparigas continuam a ser julgadas e avaliadas pelos seus corpos, continuam a ser objetificadas, retiradas de um lugar de afirmação e poder – pior ainda continuam a fazer isso a si mesmas. Com filmes de adolescentes assim, talvez possam olhar-se de outra forma, exigir mais à sociedade para elas. Filmes diferentes dos que eu e a Amy Poehler vimos em adolescentes. Há outros excelentes exemplos desta tendência que esperamos crescente, como os recentes e excelentes “Booksmart“, realizado por Olivia Wilde, curiosamente uma mulher que também é atriz, ou “Alice Júnior“. Mais representatividade, mais female gaze, mais autenticidade e mais mudança em filmes simples e leves que são também inspiradores. Que nos inspirem hoje e todos os dias fazendo as vozes crescer até ser impossível não as escutar.   


Ep.178 – Pessoas trans e terapia hormonal, LGBTI de férias e… Visibilidade Bissexual! Dar Voz a esQrever: Notícias, Cultura e Opinião LGBTI 🎙🏳️‍🌈

O CENTÉSIMO SEPTUAGÉSIMO OITAVO episódio do Podcast Dar Voz A esQrever 🎙️🏳️‍🌈 é apresentado por nós, Pedro Carreira e Nuno Miguel Gonçalves. Falamos de mais um estudo científico que declara que a terapia hormonal melhora a saúde mental de pessoas trans e de estatísticas de discriminação de pessoas LGBTI em locais de férias. Como tema principal falamos de bissexualidade em honra do Dia da Visibilidade Bi no dia 23 de Setembro. No Dar Voz A… damos destaque ao RuPaul's Drag Race Down Under e ao último álbum de Anohni, My Back Was a Bridge for You to Cross. Artigos mencionados no episódio: Pessoas adultas trans com acesso a testosterona têm melhores resultados de saúde mental 79% das pessoas LGBTQIA+ pondera a sua segurança ao escolher locais para viajar Combater mitos e preconceitos: Como Apoiar a Juventude Bissexual Jingle por Hélder Baptista 🎧 Este Podcast faz parte do movimento #LGBTPodcasters 🏳️‍🌈 Para participarem e enviar perguntas que queiram ver respondidas no podcast contactem-nos via Twitter e Instagram (@esqrever) e para o e-mail geral@esqrever.com. E nudes já agora, prometemos responder a essas com prioridade máxima. Podem deixar-nos mensagens de voz utilizando o seguinte link, aproveitem para nos fazer questões, contar-nos experiências e histórias de embalar: https://anchor.fm/esqrever/message 🗣 – Até já unicórnios Linhas de Apoio e de Prevenção do Suicídio em Portugal Linha LGBTDe Quinta a Sábado, das 20h às 23h218 873 922969 239 229SOS Voz Amiga(entre as 16 e as 24h00)213 544 545912 802 669963 524 660Telefone da Amizade228 323 535Escutar – Voz de Apoio – Gaia225 506 070SOS Estudante(20h00 à 1h00)969 554 545Vozes Amigas de Esperança(20h00 às 23h00)222 080 707Centro Internet Segura800 219 090 Quebrar o Silêncio (apoio para homens e rapazes vítimas de abusos sexuais) Linha de apoio: 910 846 589 Email: apoio@quebrarosilencio.pt Associação de Mulheres Contra a Violência – AMCV Linha de apoio: 213 802 165 Email: ca@amcv.org.pt Emancipação, Igualdade e Recuperação – EIR UMAR Linha de apoio: 914 736 078 Email: eir.centro@gmail.com — Send in a voice message: https://podcasters.spotify.com/pod/show/esqrever/message
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