Clara Ferreira Alves e a falácia do cancelamento

Clara Ferreira Alves criticou fortemente no Eixo do Mal os protestos que surgiram promovidos por pessoal funcionário da Netflix pelo conteúdo transfóbico do especial de David Chappelle presente na plataforma de streaming. Mais especificamente disse: “O chamado movimento trans conseguiu querer cancelar David Chappelle na Netflix e pretende fazer um protesto da moda (…) para que o comediante seja expelido. Ele tem uns gracejos que a meu ver o das mulheres até são bastante piores que o dos trans, mas tem uns gracejos e, portanto, tem que ser cancelado.”

Após mencionar Margaret Atwood que criticou a neutralidade de género e, claro, J.K. Rowling, tendo todas sido, segundo a comentadora, “canceladas“, Ferreira Alves acha que após o que disse provavelmente também vai ser “cancelada pelos trans” que, e cito, “não sabe muito bem o que são“. Mas, logo a seguir tropeça pelo incómodo dos colegas presentes, afinal “sabe o que são“, mas é “confuso, pois já são usadas 23 siglas” para “os LGBT“.

Ora, para começar, há nuances que desmontam a falácia da argumentação da jornalista. Quando diz que um grupo de pessoas “quis cancelar” o comediante, na verdade a manifestação foi uma forma de apoio às pessoas trans que trabalham na Netflix. O segundo ponto remete para o verbo querer. É que todos os exemplos acima mencionados continuam à espera de um verdadeiro cancelamento. Chappele, que desprezou e ridicularizou a identidade das mulheres trans, continua com o seu especial de stand-up disponível na Netflix, Atwood continua a ser um nome de referência cujos livros alimentam uma das séries de maior sucesso dos últimos anos na Hulu e Rowling persiste como uma das pessoas mais ricas do Reino Unido e com uma forte influência mundial. Onde anda o cancelamento? Aliás, haverá cancelamento de Ferreira Alves? Ela deixará de ser comentadora do Eixo do Mal? Deixará de escrever para o maior semanário do país? Onde anda, afinal, o cancelamento?

Se a comentadora não soubesse verdadeiramente o que são pessoas trans poderia começar por se informar e, nesse ponto, recomendo vivamente a carta aberta da Associação Mermaids que traduzimos na íntegra. Depois, talvez ajudasse não entrar no discurso de desumanização de um dos grupos mais perseguidos e discriminados transversalmente em todo o mundo. Reitero a questão, onde anda, mesmo, o cancelamento?

É um dedo em riste um cancelamento? Duvido, mas por vezes é a única resposta que conseguimos dar a mais uma comentadora que, ao contrário da população trans, não sofrerá quaisquer consequências.


Ep.251 – Festival da Canção e da Eurovisão em rutura, resistência em Budapeste & Come See Me In The Good Light Dar Voz a esQrever: Notícias, Cultura e Opinião LGBT 🎙🏳️‍🌈

O DUCENTÉSIMO QUINQUAGÉSIMO PRIMEIRO EPISÓDIO do Podcast Dar Voz A esQrever 🎙️🏳️‍🌈 é apresentado por nós, Pedro Carreira e Nuno Miguel Gonçalves.Neste episódio de Dar Voz A esQrever, olhamos para a contestação inédita no Festival da Canção 2026, com a maioria das pessoas concorrentes a rejeitar a participação na Eurovisão e a criticar diretamente a posição da RTP face à permanência de Israel no concurso. Seguimos até Budapeste, onde o presidente da câmara, Gergely Karácsony, arrisca uma acusação criminal por ter permitido a Marcha do Orgulho LGBTQ+, num caso que expõe o conflito entre o poder central autoritário e a autonomia municipal. No segmento Dar Voz A…, destacamos o documentário Come See Me in the Good Light, um retrato íntimo de amor, criação e mortalidade com a pessoa não-binária e poetisa Andrea Gibson como protagonista, bem como com a sua esposa Megan Falley.Artigos Mencionados no Episódio:Festival da Canção 2026: maioria de concorrentes rejeita Eurovisão e critica posição da RTPEspanha, Irlanda, Países Baixos e Eslovénia saem da Eurovisão. Portugal mantém-se num festival cada vez mais divididoGergely Karácsony, Presidente da Câmara de Budapeste, arrisca acusação criminal por permitir a Marcha do Orgulho LGBTQO Podcast Dar Voz A esQrever 🎙🏳️‍🌈 está disponível nas seguintes plataformas:👉 ⁠⁠Spotify⁠⁠ 👉 ⁠⁠Apple Podcasts⁠⁠ 👉 ⁠⁠Youtube Podcasts⁠⁠ 👉 ⁠⁠Pocket Casts⁠⁠ 👉 ⁠⁠Anchor⁠⁠ 👉 ⁠⁠RadioPublic⁠⁠ 👉 ⁠⁠Overcast⁠⁠ 👉 ⁠⁠Breaker⁠⁠ 👉 ⁠⁠Podcast Addict⁠⁠ 👉 ⁠⁠PodBean⁠⁠ 👉 ⁠⁠Castbox⁠⁠ 👉 ⁠⁠Deezer⁠⁠Se nos quiserem pagar um café, ⁠⁠⁠⁠⁠aceitamos doações aqui⁠⁠⁠⁠⁠ ❤️🦄Jingle por Hélder Baptista 🎧Para participarem e enviar perguntas que queiram ver respondidas no podcast contactem-nos via Bluesky ( ⁠⁠@esqrever.com⁠⁠ ) e Instagram ( ⁠⁠@esqrever⁠⁠ ) ou para o e-mail ⁠⁠geral@esqrever.com⁠⁠. E nudes já agora, prometemos responder a essas com prioridade máxima. Até já, unicórnios 🦄#LGBT #LGBTQ #FestivalDaCanção #Eurovisão #BudapestPride #ComeSeeMeintheGoodLight
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  2. Ep.250 – Educação Inclusiva, Eurovisão em ruptura & "Oh, Mary!"
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Respostas de 2 a “Clara Ferreira Alves e a falácia do cancelamento”

  1. […] por falar dos casos de pedofilia da Igreja Católica e passamos para a transfobia TERFinada da Clara Ferreira Alves, passando depois para o tokenismo hipócrita de Paulo Rangel e os loopholes legais de homens trans […]

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  2. […] por cá vozes como a de Clara Ferreira Alves ou a de J.K. Rowling insistem na argumentação de que existe cancelamento de pessoas quando estas […]

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