
Ontem realizou-se a primeira semifinal do Festival da Canção e uma das bandas mais acarinhadas pelo público não passou à final. Falo obviamente dos Fado Bicha.
Gostos musicais à parte (e, pessoalmente, a canção Povo Pequenino estava entre as melhores das melhores), Lila Fadista e João Caçador, levaram ao palco promovido pela RTP a identidade mais descarada, orgulhosa e festivamente queer alguma vez lá vista. Maquilhagem, roupa e mensagem da canção foram porta-estandarte de um festival imensamente acarinhado pela comunidade LGBTI. E isto, obviamente, sem desprimor por outras figuras também elas de leitura queer no palco deste sábado passado.
Não sei ainda as razões que levaram a este resultado, talvez as expetativas tenham estado demasiado elevadas, talvez a nossa bolha de amizades não reflicta a real admiração pela banda. Mas não posso também deixar de me questionar se Portugal não estará ainda preparado para ser representado por duas pessoas tão afirmadamente queer, sem rodeios, sem meias palavras, orgulhosamente bichas. É caso para perguntar: Bicha, mas não tanto?
Escrevo estas palavras na véspera da segunda semi-final do Festival da Canção 2022 e creio que a única canção que pode ser tão ou mais disruptiva que a dos Fado Bicha pertence a Pongo e Tristany com “DÉGRÁ.DÊ”. Terá Portugal coragem para a levar à Eurovisão?

Ep.186 – Renaissance: A Film by Beyoncé (hmmm, yummy, yummy, yummy, make a bummy heated) – Dar Voz a esQrever: Notícias, Cultura e Opinião LGBTI 🎙🏳️🌈
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É uma questão muito relevante. Na música popular tende a ‘aceitar-se’ muitas vezes atuações mais queer (e por ‘mais queer’ refiro-me a esse lado de afirmação sem rodeios que te referes) porque são enquadradas em outras referências mainstream menos chocantes. Acontece que, e esta é uma opinião pessoal, se a atuação for demasiado disruptiva os processos de identificação ficam limitados aos que se revêm e acreditam estar a ser representados. Fado Bicha É realmente muito bicha para a camioneta de muita gente… Não deixa de ser curioso que, no ano em que se celebram os 40 anos da despenalização da homossexualidade, surja mais uma demonstração claríssima daquilo que acredito firmemente: apesar da diferença já não ser um crime, é tolerada na sociedade portuguesa até um certo limite, limite esse que a banda ultrapassa a todos os níveis.
Pois, a disrupção pode ter sido além do “tolerado” 🥲 Venha agora a Degradê que pode ser que corra melhor e seja mais consensual (embora agora tenha maiores dúvidas quanto a isso) 🙌
Sou queer e não acho que esta canção merecesse passar. Não estás a veer queerofobia onde não existe?
Num tema tão subjetivo como as artes, acima de tudo procuro questionar o que vejo e sinto.
Totalmente de acordo. Não temos de gostar ou apoiar tudo o que nos é apresentado só porque sim.