A metamorfose social – Uma militância transmutativa

A metamorfose social – Uma militância transmutativa
Fotografia por Nathan Dumlao

Angela Davis é uma referência e uma figura pública devidamente reconhecida mundialmente. O seu ativismo foi e é crucial e, graças ao seu incansável trabalho, os movimentos sociais e direitos civis têm hoje outra relevância e espaço.

A ativista, filósofa e professora universitária estadunidense, ao longo dos últimos anos combateu o racismo, a desigualdade de género e o sistema carcerário, este que, sistematicamente aprisiona, tortura e aniquila inúmeras vidas. A força bruta aplicada pelas autoridades de segurança e pelo governo deixam qualquer cidadão ou grupo organizado prostrados e desgastados. Ainda assim, a resistência persiste e, felizmente Angela Davis é uma mulher ousada e que conseguiu continuar a sua jornada. Foi perseguida pelo FBI, presa injustamente e sofreu vários tipos de exposições cruéis e desumanas. É de referir que Angela Davis lutava e luta contra um sistema arcaico e ortodoxo, que insiste em invalidar e negar as vidas dos grupos ostracizados. 

O recente movimento Black Lives Matters tinha conquistado repercussão e visibilidade, no entanto, o racismo e os abusos policiais persistem. Imagens chocantes continuam a ser notícia na comunicação social, deixando assim a audiência paralisada.

“Numa sociedade racista, não basta não ser racista. É necessário ser antirracista.” – Angela Davis.

A repressão e o desrespeito são frequentes nas minorias, entre eles, além das pessoas negras, estão: LGBTQIA+, mulheres, indígenas, adictxs, presidiárixs e ex-presidiárixs, entre outros.

Frequentemente sequer nos questionamos como vivem as pessoas ex-presidiárias ou adictas. Sim, recebemos educação para não usufruirmos do espaço para uma reflexão, um pensamento crítico e construtivo. Afinal, que soberania tenho eu perante alguém que cumpriu devidamente a sua pena num estabelecimento prisional? Ou ainda, que superioridade seria a minha, sob um adicto (dependente químico, por exemplo) ou uma mulher trans e negra? 

Pois é, perante a Constituição da República Portuguesa, e passo a citar: 

Artigo 13.º – Princípio da igualdade

  1. Todos os cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais perante a lei.
  2. Ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever em razão de ascendência, sexo, raça, língua, território de origem, religião, convicções políticas ou ideológicas, instrução, situação económica, condição social ou orientação sexual.”

Gostemos ou não, queiramos ou não, todas as pessoas têm o direito a ser quem são, a ter uma vida digna, independente da sua identidade de género, cor da pele, orientação sexual ou qualquer outra característica socioeconómica.

Não precisamos entender, compreender ou gostar, mas é dever de todos, todas e todes nós respeitar.

Ensinam-nos a sermos obedientes, a não contestar e a não provocar qualquer tipo de desconforto em qualquer espaço e momento. Estaríamos nós a viver como bonecos inanimados e manipuláveis?

“A liberdade nunca é dada voluntariamente pelo opressor; deve ser exigida pelo oprimido. Nunca se esqueça que tudo o que o Hitler fez na Alemanha era legal.” Martin Luther King Jr.

Os movimentos sociais têm um papel imprescindível para o progresso social, afinal grandes batalhas foram travadas para que, hoje, tenhamos alguns direitos consagrados. Entre eles, o direito ao voto, ainda que muitxs de nós achemos que isso não tem qualquer relevância para o futuro democrático. Vejamos, Portugal tem a 7ª taxa de abstenção mais elevada da Europa em eleições legislativas. De acordo com a SGMAI e a PORDATA, no ano de 2019 o valor foi de 51,4%, o que significa que metade da população portuguesa votante decidiu não escolher representantes na administração governamental. 

Que consciência e inteligência seria a minha em delegar decisões tão importantes a terceiros?

Igualmente os movimentos sociais têm e continuarão a ter um peso decisivo nas nossas lutas e conquistas cívicas.

Estarmos bem informadxs, manifestar e protestar ilegalidades e violações de direitos básicos é dever de cada qual de nós. Sim, poderíamos continuar a acreditar que “entre marido e mulher não se mete a colher”. No entanto, não estaríamos nós a ser cúmplices num caso de violência doméstica, por exemplo? Aprendemos a mantermo-nos estáticos e inertes perante situações dos vizinhos, dos amigos, de todas as pessoas que não integram o nosso minúsculo círculo familiar. Talvez seja uma ideia e um conceito um tanto insipiente e primitivo, não?

A responsabilidade é manifestada e a nossa consciência opera, para que sejamos agentes da mudança, mesmo que isso implique um desconforto inicial. Como exemplo, denunciar um ato criminoso, de agressão ou violação, seja contra uma mulher, uma criança, um idoso, um animal, uma prostituta, um adicto e/ou qualquer outro ser que esteja numa posição vulnerável.

Convido-vos e desafio-vos a encontrar um caminho diferente do habitual, quiçá um movimento interno de mudança mental e/ou emocional possa surgir. A transmutação é individual e simultaneamente coletiva.

“Você nunca deve ter medo do que está fazendo, quando está certo.” – Rosa Parks.

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