As diferenças que unem retratadas no livro “No Meu Bairro” não serão silenciadas

As diferenças que unem retratadas no livro "No Meu Bairro" não serão silenciadas

Na passada sexta-feira, a apresentação do livro infantil “No meu bairro”, escrito por Lúcia Vicente e ilustrado por Tiago M., foi alvo de um protesto intimidatório. Um grupo liderado por um sujeito de megafone na mão tentou silenciar as vozes da autora e das apresentadoras. Confrontou também diretamente as pessoas que assistiam à apresentação. O sujeito foi o mesmo que importunou uma atividade pedagógica para crianças e jovens no Évora Pride.

Alegadas preocupações com crianças e jovens foram as razões pelas quais o grupo interrompeu a apresentação. “Deixem as crianças em paz” e acusações de grooming estão longe de ser novidade. Afinal de contas são importações de pânicos vindos da extrema-direita estadunidense que acontecem desde, pelo menos, a década de 1970.

Não nos deixemos enganar: Crianças LGBTI+ importam! E instrumentalizar estas e as suas famílias é um desfavor que fazem à liberdade, à democracia e, sim, às crianças que alegam defender. A proibição ou censura de livros é sinal de um caminho que uma sociedade mais inclusiva e igualitária para as futuras gerações não pode seguir. A tentativa de silenciamento é um ataque à liberdade e à própria existência destas pessoas e suas famílias.

Mas, afinal, de que trata o livro “No Meu Bairro” que tenha justificado tão violenta interrupção?

Este livro representa uma forma inspiradora de vida em comunidade.
É um livro sobre ti e sobre todes nós.
Uma abordagem cheia de poesia à diversidade, ao respeito pela individualidade e à aceitação.

Esta obra tem a missão de mudar os estereótipos que existem na sociedade e assume, com orgulho, a diversidade, tornando-a visível para que se possa finalmente normalizar. Através de uma viagem pelas interrogações e vidas de doze crianças, fala-se de diversidade de género, familiar, racial ou de credo religioso, dando ferramentas a quem educa para abordar estes temas, cada vez mais presentes na vida das nossas crianças. Os livros são a ferramenta ideal para a normalização de uma linguagem que represente de igual forma todas as pessoas. Assim, pela primeira vez em Portugal, vamos assumir uma proposta do sistema gramatical neutro ELU.

A Pinguin Livros posicionou-se em total solidariedade para com a autora e o ilustrador

Após a manifestação, a editora posicionou-se em “total solidariedade para com a autora e o ilustrador, as apresentadoras do livro, as nossas colegas da editora que estavam presentes, a livraria que nos acolheu e todas as pessoas que foram pacificamente assistir à apresentação do livro e ao importante debate em torno da diferença, da diversidade e da equidade que este pretende promover“.

A Pinguin Livros reiterou também em como acredita que os livros “têm o poder de suscitar o debate, de fortalecer o diálogo e a coesão social, de mudar e enriquecer os leitores, e de contribuir de forma decisiva para criar um futuro melhor para as novas gerações“. Como tal, conclui, mantem-se sempre firme nesse propósito.

Ou seja, como escrito na capa do livro, “No Meu Bairro” debruça-se sobre as diferenças que unem: um livro sobre inclusão e diversidade. Quando as diferenças podem ser um tremendo catalizador de união, essa é a lição que importa retermos e promovermos.

O livro foi editado pela Nuvem de Letras da Pinguin Livros.

Poderão também encontrar uma série de sugestões de livros LGBTQIA+ na nossa secção de Literatura.