EUA pressionam empresas portuguesas a abandonar políticas de diversidade: que impacto tem esta ofensiva anti-DEI?

EUA pressionam empresas portuguesas a abandonar políticas de diversidade: que impacto tem esta ofensiva anti-DEI?

O Governo dos EUA, liderado por Donald Trump, está a pressionar empresas portuguesas com contratos públicos a abandonarem políticas de diversidade, equidade e inclusão (DEI).

Com a nova ordem executiva, assinada a 21 de janeiro, o executivo dos EUA pôs fim a todos os programas DEI no setor público. Suspendeu pessoas funcionárias, criou canais de denúncia e ameaça agora com sanções empresas privadas que promovam medidas que garantam equidade no local de trabalho. E a ofensiva chegou à Europa — incluindo a Portugal.

O que está em causa nesta ofensiva anti-DEI na Europa?

A pressão sobre empresas europeias (e portuguesas) é real. A embaixada dos EUA está a exigir uma “certificação” de que essas empresas cumprem as novas normas estadunidenses. E mesmo que os documentos enviados não incluam ameaças explícitas, o recado é claro: manter programas de diversidade pode comprometer contratos com entidades públicas dos EUA.

As medidas visadas incluem:

  • formações antidiscriminatórias para equipas;
  • programas de contratação de pessoas sub-representadas;
  • combate a desigualdades salariais;
  • e até acessibilidade para pessoas com deficiência.

Estas são práticas comuns em muitas empresas que se querem mais inclusivas e representativas. Cancelá-las significa institucionalizar a exclusão e silenciar vozes diversas — e é isso que está a acontecer.

O impacto nas pessoas LGBTI+, mulheres e outras minorias

Estas políticas têm alvos claros: todas as pessoas que desafiem a norma histórica dos locais de trabalho — maioritariamente brancos, masculinos, cis e heterossexuais. A ordem executiva, disfarçada de “revisão legal”, representa uma tentativa de apagar avanços conseguidos por pessoas LGBTI+, pessoas racializadas, mulheres e pessoas com deficiência.

Empresas que, até aqui, promoviam inclusão através de formações, ajustes salariais e programas de estágio para pessoas queer ou racializadas, podem agora ser forçadas a recuar. E este recuo não acontece no vazio: legitima discriminação, silencia denúncias e empurra novamente estas pessoas para as margens do mercado de trabalho.

E em Portugal?

Ainda não se sabe ao certo quantas empresas portuguesas receberam as cartas, mas é sabido que a pressão já chegou. Ao aceitarem autocertificar o fim de políticas DEI, estas empresas alinham-se com uma visão discriminatória e excludente.

Num momento em que os discursos de ódio e a retórica anti-direitos crescem também na Europa, é urgente que se mantenha o compromisso com a inclusão — mesmo quando isso significa resistir a pressões externas.

Inclusão não é opcional

Mais do que uma questão administrativa, o que está em causa é o futuro dos direitos humanos nas relações laborais. Quando um governo poderoso como o dos EUA tenta impor a sua ideologia discriminatória fora de portas, está a tentar exportar o seu retrocesso. Cabe às empresas, e aos governos europeus, dizer que não.

A inclusão não é moda, não é “woke”, não é uma concessão. É um princípio de justiça e dignidade. As pessoas LGBTI+, as mulheres, as pessoas racializadas ou com deficiência sabem bem o que significa serem excluídas — e o quanto custou conquistar cada espaço. Estas tentativas de apagamento mostram que o progresso incomoda. Mas não se pode permitir que se volte atrás. A inclusão não é um favor, é um direito. E é dever de todas as organizações, públicas ou privadas, resistir a quem a quiser apagar — seja onde for.



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Respostas de 5 a “EUA pressionam empresas portuguesas a abandonar políticas de diversidade: que impacto tem esta ofensiva anti-DEI?”

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  2. […] Depois de pressionar empresas portuguesas a abandonarem políticas de diversidade, equidade e inclus…, a Administração Trump estende agora essa ofensiva ao ensino superior. Universidades públicas em Portugal, como o Instituto Superior Técnico (IST), começaram a receber questionários ideológicos enviados pela embaixada dos Estados Unidos, acompanhados de ameaças de cancelamento de financiamento. […]

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  3. […] queer faz parte da história. Habituem-se.” E tem razão. Especialmente hoje, quando vemos retrocessos nas políticas de diversidade, com universidades pressionadas a cancelar programas de inclusão, ou governos que ameaçam […]

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  4. […] EUA pressionam empresas portuguesas a abandonar políticas de diversidade: que impacto tem esta ofen… […]

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  5. […] À medida que o Mês do Orgulho LGBTQIA+ decorre, várias organizações por toda a Europa enfrentam sérias dificuldades para financiar os seus eventos. A origem do problema? Uma crescente pressão da extrema-direita global, liderada pelo regresso de Donald Trump à presidência dos EUA, que tem provocado uma reação em cadeia no desinvestimento em políticas de diversidade, equidade e…. […]

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