Exposição “Adeus, Pátria e Família” aborda o movimento LGBTI+ em Portugal desde o tempo da ditadura

Inaugura hoje a exposição “Adeus, Pátria e Família” (trocadilho ao mote do Estado Novo) no Museu do Aljube em Lisboa. A exposição, que contou com a curadoria de Rita Rato e Joana Alves, aborda as dinâmicas e tensões entre a repressão e as resistências de diversidade sexual e de género durante a ditadura e após a Revolução. Pretende fazer compreender como essa tensão condicionou a vida quotidiana e perpetuou práticas e discursos opressivos e discriminatórios, especialmente contra a população LGBTI+, marcando a sociedade portuguesa até à atualidade.

É assim feito um convite à reflexão sobre as construções, desconstruções e reconstruções do conceito de género e o caminho ainda, e sempre, necessário para construir uma sociedade democrática.

No ano em que se celebra, pela primeira vez na nossa história, mais dias vividos em liberdade do que em ditadura, celebra-se igualmente os 40 anos da descriminalização da homossexualidade e quatro anos desde a consagração legal da autodeterminação de género. Estes avanços são inseparáveis de décadas de resistência, coragem, mobilização, solidariedade e enfrentamento do medo.

Em ditadura o movimento associativo LGBTI+ era impensável

Exposição "Adeus, Pátria e Família" aborda o movimento LGBTI+ em Portugal desde o tempo da ditadura
Documento sobre Policiamento de Logradouros Públicos e Zonas Florestais (1953), via Público.

Há 50 anos a homossexualidade ainda era criminalizada em Portugal – as pessoas eram presas, perseguidas, sujeitas a tratamentos médicos altamente ofensivos das suas condições”, disse Rita Rato. “O movimento LGBT estrutura-se apenas a partir do final dos anos 1980, a partir da luta contra o VIH, havendo depois um processo muito rápido de validação. Mas num contexto de ditadura um movimento associativo LGBT era impensável.

Joana Alves referiu haver “uma idealização da família e da pátria através da propaganda. Os manuais escolares da altura, por exemplo, nos textos e imagens, estabeleciam muito bem o que era de menina e menino. Tendo em conta esses padrões definidos pelo Estado Novo, essa educação deixou marcas até hoje, explicando de certa forma de onde vem a homofobia ou a transfobia

É neste sentido que a exposição se oferece para revelar, nomear, reconhecer, representar e visibilizar é desconstruir preconceitos, combater violências, educar para os direitos humanos.

Todo o caminho feito até aqui inspira a continuação da luta pela dignidade da pessoa humana, homenageando aquelas que foram perseguidas, criminalizadas, patologizadas, colonizadas, humilhadas e oprimidas. A exposição assume assim o seu compromisso na defesa dos ideais e valores da liberdade e da democracia.

Horários da Exposição

MUSEU DO ALJUBE, LISBOA: TER – DOM • 10H – 18H • ENTRADA LIVRE • 28 DE JUNHO DE 2022 A 29 DE JANEIRO DE 2023

Ficha Técnica

CURADORIA   Rita Rato e Joana Alves
DESENHO DE EXPOSIÇÃO  Ricardo Carvalho Arquitectos & Associados


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Respostas de 3 a “Exposição “Adeus, Pátria e Família” aborda o movimento LGBTI+ em Portugal desde o tempo da ditadura”

  1. […] Inaugurou em junho a exposição “Adeus, Pátria e Família” no Museu do Aljube em Lisboa e numa tarde quente fui visitá-la. Tão habituado a descobrir museus que contem as histórias da resistência e da luta pelos direitos LGBTI+ em visitas ao estrangeiro, ainda são poucas as vezes que o fiz em terras lusas. Talvez não aconteça por ignorância minha, mas, acredito, também por serem escassas. Daí que uma caminhada de 15 minutos a uma exposição gratuita num museu central da cidade de Lisboa me impeliu para a ir ver mal surgisse a primeira oportunidade. […]

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  2. […] Sombras Andantes é um espetáculo de André Murraças sobre a relação do Estado Novo com a população LGBTI+, inserido na programação paralela da exposição temporária “Adeus Pátria e Família” no Museu do Aljube em Lisboa. […]

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  3. […] Como se não bastasse, a legenda reforça ainda, em estilo jocoso, que “os autores não se sentem confortáveis em continuar a escrever sobre o mesmo, temendo a própria vida, pois ainda há por aí muita PIDE“. Parecem ignorar “os autores” da perseguição que a comunidade LGBTI+ sofreu em Portugal no tempo do Estado Novo, precisamente, p…. […]

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