Raffaella Carrà: Um Ícone de Liberdade e Inspiração para a Comunidade LGBTQIA+

Raffaella Carrà Ícone de Liberdade e Inspiração para a Comunidade LGBTQIA

Raffaella Carrà, com sua energia incansável e sorriso contagiante, rapidamente se tornou num grande ícone na comunidade LGBTQIA+. Com o seu talento e energia, Carrà ultrapassou as fronteiras de Itália para se tornar num símbolo global de liberdade, amor e inclusão desde a década de 1950.

Através da suas canções, danças e programas de televisão, a artista italiana, nascida em Bolonha em 1943, abriu caminho para discussões mais abertas sobre sexualidade e identidade de género, tornando-se uma aliada inestimável da comunidade LGBTQIA+.

Desde os primeiros passos da sua carreira, Raffaella Pelloni que se tornou Carrà mostrou que não era apenas mais uma artista no cenário musical. Com sucessos como “A far l’amore comincia tu“, ela incentivou a liberdade sexual e a expressão individual numa época de conservadorismo. Desde cedo que era brilho por oposição às forças mais conservadoras, fosse na política ou na igreja. As suas performances vibrantes eram mais do que entretenimento; eram declarações de independência e autoaceitação.

Na Itália conservadora da década de 1970, Carrà provocou um dos maiores escândalos da história da televisão italiana quando apareceu em horário nobre com o umbigo à mostra. O episódio enfureceu o Vaticano e os líderes do partido Democracia Cristã, mas não a conseguiram impedir. Mais de duas décadas passadas, o Vaticano voltaria a pronunciar-se sobre a cultura pop tentando travar Madonna e a sua Blonde Ambition Tour. O próprio Papa falaria nesse momento pela primeira vez diretamente sobre uma estrela pop.

Mas as comparações entre Raffaella Carrà e Madonna não se ficam por aqui.

Raffaella Carrà, ícone da Comunidade LGBTQIA+

Carrà não só trouxe alegria e cor com suas músicas, mas também se tornou um farol de esperança para a comunidade LGBTQIA+. Em programas de televisão e entrevistas, não teve medo de abordar temas LGBTQIA+ com respeito e curiosidade, promovendo um ambiente de aceitação e compreensão.

Em 1978, Carrà lançou o álbum Raffaella, que continha uma música chamada Luca. Nela detalhava os preconceitos homofóbicos e ataques violentos sofridos pela comunidade LGBTQIA+ na Itália nos anos 70.

Mesmo após a sua morte em 2021, Carrà deixou um legado de coragem e liberdade que continua a inspirar. Artistas e ativistas de todo o mundo, como Tiziano Ferro, citam Carrà como uma influência significativa nos seus trabalhos e na luta por direitos LGBTQIA+.

Quando questionada sobre famílias arco-íris e a adoção em Itália, Raffaella simplesmente respondeu:

Eu cresci com a minha mãe e a minha avó. A minha mãe expulsou o meu pai da nossa casa porque ele estava muito ocupado a perseguir outras mulheres e a não cuidar da sua própria família. Eu cresci com duas mulheres e aqui estou perfeitamente, não estou?

Raffaella esteve próxima da Eurovisão

Já durante a década de 1990 e até a década de 2000, Raffaella Carrà permaneceu próxima da Eurovisão, um festival igualmente celebrado pela comunidade. Além de apresentar um programa de seleção em Espanha em 2008, onde permaneceu muito popular ao longo das décadas, comentou também o festival para a televisão italiana em 2011.

Como Itália na Eurovisão rima com Festival de Sanremo, Carrà também apresentou o evento três vezes, em 1983, 2001 e 2014.

O impacto de Raffaella Carrà persiste após a sua morte

Carrà morreu aos 78 anos em 2021. Numa carreira que se confunde com a sua própria vida – o seu primeiro papel foi aos 9 anos no filme Tormento del passato – Raffaella tornou-se numa instituição cultural no seu país de origem, considerada a sua “mulher mais amada”. Pelo caminho, conquistou também países como o Reino Unido, Espanha, Alemanha, mas também outros tantos da América do Sul.

Dias após a sua morte, milhares de pessoas acompanharam o seu caixão pelas ruas de Roma até à Igreja de Santa Maria em Ara Coeli para o seu funeral, que foi transmitido ao vivo no canal de televisão público RAI. Também nesse momento quebrou barreiras: uma bandeira arco-íris – o símbolo do movimento LGBTQIA+ – foi colocada ao lado do seu caixão numa igreja católica.

Raffa: Uma Jornada através da Vida de um Ícone

A série documental da Disney+, “Raffa”, oferece um mergulho profundo na vida e no legado da diva italiana. Através de imagens inéditas e testemunhos próximos, “Raffa” destaca não apenas a carreira de Carrà, mas também o seu impacto na comunidade LGBTQIA+. É uma celebração da sua vida, mostrando como a sua mensagem de amor e inclusão persiste até aos dias de hoje.

Raffaella Carrà foi muito mais do que uma estrela de entretenimento da música e da televisão. Ela foi uma pioneira, uma defensora dos direitos humanos e um ícone de alegria e liberdade para a comunidade LGBTQIA+. A sua música, o seu estilo e o seu espírito livre continuam a inspirar e a trazer luz às nossas vidas. Não é por acaso que ela foi homenageada na Marcha do Orgulho LGBTQIA+ de Roma em 2022 sob o lema “Torniamo a fare rumore” (“Estamos de volta para fazer barulho”), um dos seus clássicos.

“Raffa”, do cineasta Daniele Lucchetti, convida assim à reflexão sobre a importância de vivermos autenticamente e de celebrar a diversidade e a inclusão em todas as suas formas.

Todos dizem que o amor é amigo da loucura, mas para mim, que já estou louca, é a única coisa que me cura.

Pela construção de um mundo onde o amor, a liberdade e a alegria de viver sejam acessíveis a todas as pessoas, para sempre Raffa.

Raffaella Carrà esteve também em destaque no Podcast Dar Voz a esQrever:

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